O processo que apura uma suposta rede de
pedofilia em Araçuaí, no Vale do Jequitinhonha, foi retomado na tarde de 01 de
dezembro de 2015, com oitivas de testemunhas e envolvidos no caso que se
arrasta na Justiça desde 2006. O Juiz da Comarca Carlos Junken está conduzindo
o processo. Novas audiências ainda serão marcadas porque algumas testemunhas não
foram localizadas e outras já não moram mais em Minas Gerais.
De acordo com o relatório do então delegado Jaime Gomes da Costa, que
investigou o caso, os envolvidos, homens bem situados socialmente, como dois
médicos, um bancário, um escrivão do Fórum local, empresários, um despachante e
até um policial, que ao invés de dar parcela de contribuição em favor das
menores, preferiram explorá-las sexualmente, mediante pequenas recompensas,
aproveitando da pobreza das mesmas.
Ao todo, 14 pessoas foram indiciadas pelo delegado, em novembro de 2006,
por crime contra os costumes e enquadradas no artigo 244-A da lei 8.069/90
(Estatuto da Criança e do Adolescente). As penas variam de 4 a 10 anos de
reclusão.
O caso ganhou as páginas dos jornais e até mesmo uma reportagem especial
do SBT Brasil, com apresentação do jornalista Carlos Nascimento.
Apenas um dos envolvidos – um despachante – chegou a ser preso sob
suspeita de tentar molestar uma menina de 11 anos, no bairro São Francisco, em
Araçuaí. O caso foi em setembro de 2012. Outro envolvido faleceu no ano
passado.
Confissões - Segundo o delegado da Polícia Civil, Jaime Gomes da Costa, a
contundência do envolvimento dos homens foi tanta que alguns, sem alternativa,
até confessaram o crime, a exemplo de um serventuário da Justiça de Araçuaí que
admitiu ter se relacionado com uma das menores. Um bancário também admitiu ter
ficado várias vezes com duas das garotas que ele recompensava com dinheiro e
presentes.
Ainda segundo o delegado, os encontros com as menores aconteciam
principalmente em uma pousada próxima a um posto de gasolina no Alto do Mercado
e outra nas proximidades da Policlínica Municipal de Araçuaí.
“A
principio, estas meninas se prostituíam com caminhoneiros que pernoitavam na
cidade e depois com pessoas de Araçuaí”, revelou o delegado em entrevista.
Paralisação do processo - Foram arroladas mais de 30 testemunhas que iriam ser ouvidas em setembro
de 2011. Com a saída dos dois Juízes da Comarca, em agosto de 2011, todas as
audiências foram canceladas. A Comarca de Araçuaí, que tem sob sua jurisdição
seis municípios, possui apenas dois juízes.
Policial quer solução para o caso - O policial citado no processo, um Cabo da Polícia Militar, disse que tem
interesse na solução do caso. “Envolveram
meu nome nesta história. Estou sendo prejudicado porque não posso ser promovido”,
disse ele que chegou a responder por uma sindicância interna da PM.
Em seu depoimento à comissão ele chegou a admitir que teve dois contatos
com uma das menores citadas. “Uma vez a
menina me procurou para pedir emprestada minha farda para apresentação de um
trabalho escolar e outra, quando ela acionou a polícia para denunciar que havia
sido estuprada. Não emprestei a farda e jamais tive qualquer relacionamento com
esta garota”, afirma o Cabo.
Após dois anos de investigação, a Comissão de Sindicância, composta por um
tenente, um capitão e um sargento, optou pela improcedência das acusações
contra o Cabo.
Por insuficiência de provas o caso foi arquivado, porém, o policial
continua a responder pela acusação na Justiça Comum. Os demais acusados também
negam qualquer envolvimento com as menores.
FONTE: Gazeta de Araçuaí, via Aconteceu no
Vale.