Só sobraram as ruínas da Escola Municipal Fúlvio Mota, localizada na Comunidade do Macuco Quilombola em Minas Novas, Vale do Jequitinhonha. O espaço que atendia os moradores da região foi desativado há 15 anos, sob o argumento de que não havia demanda. Fato é que, além de descontinuar o ensino por lá, ainda retiraram as telhas, janelas e pisos do prédio que servia também de ponto de encontro para as assembleias, reuniões e ensaios dos grupos folclóricos.
Depois de anos de espera, os moradores
se uniram para reativar a escola rural. Eles contestam, argumentando que além
das crianças, muitos adultos também foram alfabetizados na Fúlvio Mota por meio
do EJA – Educação de Jovens e Adultos. A matriarca do Macuco, Elizabete
Rodrigues (68), a Betinha Menan, conta que o terreno para a construção do
espaço foi doado por um morador, analfabeto que sonhava em ver o aprendizado de
todos.
Para ela, recuperar o prédio simboliza a realização de um sonho, já que o ponto era utilizado para outras atividades. “Aqui tinha missa, reunião, ensaios, era nosso ponto de encontro, além de escola. Temos crianças e muitos adultos analfabetos que gostariam de estudar. Na idade que estamos não conseguimos pegar ônibus para ir à cidade todos os dias”, comenta.
Betinha se lembra dos tempos em que passava o dia trabalhando na lavoura e podia ir para a escola à noite. “Era muito importante. A gente ia para a roça, depois tomava banho e vinha estudar. Reativar a escola é nosso sonho. Temos esperança que vai voltar”, afirma.
EDUCAÇÃO QUILOMBOLA - Segundo dados da Fundação Cultural Palmares do Ministério da Cultura, o Brasil tem 1.209 comunidades remanescentes de quilombos certificadas e 143 áreas com terras já tituladas. Minas Gerais ocupa a terceira posição nacional com 89 territórios reconhecidos.
Estes espaços são de conservação de
saberes e fazeres e, por este motivo, tem direito a uma educação que respeite a
tradição do povo. O Censo Escolar de 2007, aponta que o Brasil tem
aproximadamente 151 mil alunos matriculados em 1.253 escolas localizadas em áreas
remanescentes de quilombos.
A Comunidade do Macuco Quilombola possui
atualmente 37 famílias e está com uma arrecadação online para auxiliar no
projeto. A meta em 2020, era de R$45 mil para erguer um novo prédio para a
escola. A líder comunitária, Juscilene Alves Costa, a Leninha, explica que a
reconstrução da escola é importante, pois irá trazer vida à comunidade. “Todos
os nossos saberes se perdem quando os alunos da comunidade vão para a sede. Com
a introdução de novas culturas os jovens quilombolas começam a deixar os
costumes ancestrais de lado e seguir o que é moda ultimamente. Muitas vezes até
sentem vergonha em participar de grupos folclóricos da comunidade com receio de
não serem aceitos pelos seus colegas”, afirma.
Por Cibele Maciel