De acordo com a polícia, na operação no Norte de Minas,
que contou com a participação de cerca de 100 agentes, cães farejadores, um
helicóptero e a tecnologia de drones, foi desmontada uma das mais bem
arquitetadas ações dos grupos especializados no ataque a caixas eletrônicos e
carros-fortes no país, num duro golpe contra as quadrilhas do “Novo Cangaço”.
Saíram de circulação (mortos ou presos), bandidos ligados a perigosas facções
criminosas de três estados: Bahia, de onde o bando partiu em direção ao Norte
de Minas, São Paulo e Ceará.
De acordo com uma fonte da inteligência policial da
Bahia, que monitorou a quadrilha desbaratada no Norte de Minas, os ataques a
carros-fortes e caixas eletrônicos planejados na região seriam de grande
dimensão, vinham sendo organizados num período entre três e seis meses e também
custaram caro: em torno de R$ 800 mil, “investimento” que acabou resultando em
prejuízo para os criminosos do “Novo Cangaço”, com a grande apreensão de
armamento pesado e de explosivos encontrados em poder grupo desarticulado.
Foram apreendidos em poder do grupo 420 quilos de
explosivos, incluindo uma “inovação tecnológica”: artefatos com ímã para
facilitar a detonação rápida de carros-fortes, que estão avaliados em R$ 300
mil. Também foi apreendido um arsenal que inclui seis fuzis, uma espingarda
calibre 12, três pistolas automáticas, três revólveres e farta munição, como
carregamento para metralhadora .50, arma com capacidade para derrubar
aeronaves.
O armamento apreendido em poder do bando está estimado em
R$ 500 mil. Além disso, a quadrilha ainda perdeu quatro veículos que foram
usados em seus deslocamentos na Bahia e no Norte de Minas.
O arsenal e os explosivos foram localizados na última
quarta-feira, 25 de setembro, no município de Padre Carvalho, no “QG” do bando
em um sítio distante 12 quilômetros da área urbana e a quatro quilômetros da
BR-251 – estrada Montes Claros. No local, estava sendo planejado o primeiro
ataque a um comboio de carros-fortes. A quadrilha também preparava para os dias
seguintes ataques a um caixa eletrônico em Salinas e a um carro-forte em Divisa
Alegre, na divisa entre Minas e a Bahia.
No sítio, houve confronto com a polícia. Seis bandidos
foram mortos e outros comparsas deles fugiram, o que deu início a intensa
caçada nas matas da região, que só terminou na segunda-feira à noite, em Vale
da Cancelas, com as prisões dos últimos fugitivos. No decorrer da ação houve
mais duas trocas de tiros com a polícia e outros três criminosos foram mortos.
Dois deles foram alvejados na madrugada de sexta-feira,
na BR-251, durante uma tentativa de resgate dos fugitivos – um dos mortos era o
motorista de um Fiat Strada usado na tentativa de resgate. Outros dois homens
fugiram. Na manhã de sábado, as forças policiais alcançaram Edson Santos
Queiroz, de 35, apontado como líder do bando e mentor das ações criminosas no
Norte de Minas.
As prisões de Ocean e Edílson ocorreram por volta das 22h
de segunda-feira. Depois de descobertos no meio do mato, os dois correram,
passaram no estacionamento de um posto de gasolina e entraram em um hotel, no
distrito de Vale das Cancelas, às margens da BR 251. Populares avisaram à
Polícia Militar, que se deslocou até o estabelecimento, onde os dois criminosos
se entregaram. Em seguida, informaram que tinham escondido um fuzil M-4 junto
ao posto de gasolina, debaixo de folhas de árvores. A arma foi apreendida.
Perigo
e técnica - O resultado da ofensiva contra as facções e as
quadrilhas do “Novo Cangaço” no Norte de Minas foi comemorado pelo Comando da
Polícia Militar de Minas Gerias. “Foi uma operação extremamente exitosa, que
demonstra para a sociedade que a PM não descansa, mesmo com o enfrentamento do
perigo, pois havia um grande arsenal em poder de uma quadrilha perigosa e
vários (integrantes) não se entregaram. Eles confrontaram a polícia e levaram a
pior”, afirmou o porta-voz da PMMG, major Flávio Santiago.
Ele ressaltou que o enfrentamento foi “muito técnico”. E
completou: “A Polícia Militar está cada vez preparada para inibir no estado
qualquer ataque ou ação de quadrilhas”.
A caçada aos criminosos mobilizou 100 policiais por
terra, um helicóptero e drones, um deles com a tecnologia de imagem por
temperatura, que permite o monitorar o deslocamento das pessoas de acordo com o
calor do corpo. Segundo o capitão Carlos Miranda, piloto do Corpaer – batalhão
de patrulhamento Aéreo – que trabalhou na operação, foi essa tecnologia que
possibilitou o acompanhamento dos dois fugitivos e a consequente prisão deles.
No deslocamento das equipes da capital até o Norte de Minas, também foi usado
um avião a jato, que antes servia ao gabinete do governador Romeu Zema, que cumprimentou
os policiais pelo sucesso da operação.
Como
funcionava o bando - A quadrilha desarticulada no Norte de
Minas tinha ações bem planejadas, com atribuições definidas para cada um de
seus componentes. Além disso, contava com o envolvimento de criminosos
altamente perigosos, vinculados a facções da Bahia, São Paulo e Ceará. De
acordo com fonte do serviço de inteligência da polícia da Bahia, que monitorou
a quadrilha, os dois integrantes do grupo que foram presos, Ocean Pereira da
Conceição – que já tinha mandado de prisão preventiva no Distrito Federal – e
Edilson Sousa Oliveira do Vale, participaram da investida a carros-fortes em
Minas por ordem dos irmãos Juvenal Laurindo e Neto Laurindo, de facção
criminosa do Ceará, que comandaram o famoso ataque ao prédio do Banco Central
em Fortaleza, em 2005. Na ação planejada no Norte de Minas eles tinham a função
de fazer a contabilidade e agir na linha de frente de enfrentamento a
policiais.
Edson Santos Queiroz, suposto mentor da ação em Minas,
morto em tiroteio com os policiais, no sábado, também era líder, de acordo com
a polícia, de uma da mais perigosas facções criminosas de Salvador. Edson era
considerado de alta periculosidade, autor de uma série de homicídios, o
primeiro deles cometido quando tinha 13 anos. A missão dele na quadrilha era de
enfrentamento das forças policiais.
Um dos seis mortos no primeiro confronto da quadrilha com
os policiais foi Valmir Silva Lemos, o Osasco. Entre integrou a ação no Norte
de Minas como representante de uma facção criminosa paulista, que atua dentro
dos presídios. Vinculado a uma facção criminosa paulista, um outro homem morto
no confronto em Padre Carvalho, identificado como Rônio, tinha como
“especialização”, fazer o mapeamento de rotas de fugas.
Ainda conforme a fonte do setor de inteligência da
polícia da Bahia, o ex-candidato a vereador em Padre Carvalho, José Mendes de
Sá, de 36, outro integrante do bando no enfrentamento da polícia, era
responsável por garantir a logística, alimentos e remédios para o bando. Os 420
quilos de explosivos foram apreendidos na garagem da casa de José Mendes, em
Padre Carvalho, curiosamente a um quarteirão do pelotão local da Polícia
Militar. Ele foi o articulador o aluguel do sítio usado como QG pelos
criminosos. O dono do sítio chegou a ser detido e foi liberado. Mas está sendo
investigado pela suspeita de ligação com a quadrilha.
FONTE: Estado de Minas