Em uma pequena gleba de terra (próxima à antiga estação ferroviária da Bahia-Minas), ela e o pai criam galinhas, porcos e patos para aumentar a renda.
Para Natália e os 11 familiares que vivem em duas pequenas casas, a TV desistiu da vocação de animar. A sala de visita tornou-se sombria. O banho é sempre frio. Não existe geladeira, rádio ou qualquer outro eletrodoméstico. O único luxo é o celular da Natália que quando descarrega, é preciso se valer da boa vontade dos vizinhos para recarregar a bateria.
Tudo o que se podia esperar de uma vida de esforços, era desfrutar o conforto da luz elétrica, ao final de cada jornada de trabalho. Mas Natália e seu pai, o aposentado Manoel Caldeira Miranda, de 73 anos, e os outros parentes que moram no local, estão excluídos deste bem, sempre que o sol se põe. ”Vivemos no padecimento”, lamenta o aposentado.
Em uma casa de adobe e outra de tijolos nus, eles moram aonde a energia elétrica não chega apesar da rede de distribuição estar a pouco mais de 100 metros das casas. Mesmo sem poder pagar aluguel, uma das irmãs de Natália, deixou a casa onde vivia há anos, em busca de conforto para os filhos pequenos. “Tem muitos escorpiões por aqui e a noite fica mais perigosa. As crianças gostam de televisão e ficam com medo da escuridão”, conta Natália.
Parte do salário do pai dela é gasto com a compra de óleo diesel para alimentar as lamparinas. “O dia que tem dinheiro a gente compra. Quando não tem, ficamos no escuro”, conta o aposentado. “Quando tem visita e meu namorado está aqui, ele faz uma ligação na bateria do carro. Mas é só por alguns minutos senão a bateria descarrega”, conta Natália.
Perguntada sobre o que ela acha de um possível apagão e a crise de energia que o país pode atravessar, ela ri. “Aqui nós já vivemos no apagão faz tempo. Nem sei o que passa na televisão”, diz Natália. Ela conta também que ano após ano, ela e a família buscam uma solução para o caso.
Explicação - De acordo com a filha do proprietário da área, a advogada Alessandra Peixoto, a família vive no local através de um contrato de comodato. “Uma das filhas do aposentado trabalhou por muitos anos em nossa casa. Permitimos que eles ocupassem a área, porém o lugar é inundável, está perto de uma represa. Não é conveniente a instalação de energia no lugar. Vamos oferecer uma outra área para que eles possam construir a casa deles”, explicou a advogada cuja família é proprietária de um loteamento nas proximidades. “Não quero morrer sem ver a luz na minha casa”, confessa o aposentado. O caso está sendo analisado pela Justiça.
FONTE: Gazeta de Araçuaí, por Sérgio Vasconcelos.